Com as novas metas curriculares foram introduzidos textos cada vez mais exigentes, tanto a nível de extensão, como de conteúdo. Por isso, é cada vez mais importante que as crianças façam, efetivamente, uma leitura compreensiva e sejam capazes de mobilizar conhecimentos. Não interessa ler por ler. Interessa ler, pensar, formular hipóteses, inferir, perceber sentidos e informações "subreptícias", mas muito importantes para a compreensão de todo o texto.
Segundo Irwin (1986) e Giasson (1993) a compreensão da leitura pode ser decomposta num conjunto de sub-processos que devem ser explícita e sequencialmente ensinados. Os primeiros a serem ensinados são os microprocessos, que têm como função o reconhecimento e agrupamento de palavras e a identificação da ideia principal da frase. À medida que se desenvolve a competência da leitura, também estes sub-processos se vão tornando mais elaborados.
Um dos sub-processos mais importantes nesta fase de ensino em que me encontro são os processos elaborativos (que permitem ao leitor integrar os conhecimentos prévios, formando imagens mentais e ajudam o leitor a fazer previsões sobre o texto, a reagir afectivamente ao texto) e os processos metacognitivos, que permitem a monitorização da compreensão na leitura, sendo importantes para a identificação e reparação da falta de compreensão.
No texto "Gustavo e Amélia"(visível na imagem), que trabalhamos durante esta primeira semana de aulas, foi notória a lacuna destes processos metacognitivos em vários alunos. Porquê? Porque mais de metade do texto induziu as crianças e qualquer leitor (até eu mesma) a pensar que "Gustavo" seria um menino. Até que num parágrafo, à partida sem especial interesse, uma pequena pergunta de "Gustavo" a outra personagem nos fez perceber que afinal se tratava de um espantalho. Aqui foi preciso fazer um "upgrade" à linha interpretativa que estava a ser seguida, pois se não fosse feita, as crianças errariam quase toda a interpretação do texto (aliás, como aconteceu em alguns casos).
“Uma só linha de um texto desata muitos processos mentais no leitor. O conjunto destes processos é o que gera a compreensão.” (Alliende & Condemarín, 1987:139)
Já agora, depois de lerem o texto, que resposta dariam à seguinte pergunta:
"Alguns amigos de Gustavo tinham ido embora.
Por que razão teriam partido?"
Podem deixar a resposta no comentário. :-)